"Assim"
Há dias em que acordamos e percebemos que ainda estamos a dormir,
Então, fechamos os olhos e entramos no sonho,
Mas, afinal, descobrimos que estamos demasiado despertos.
A luz do sol atravessa as cobertas e não nos permite sonhar.
A nossa mente penetra mais fundo e não nos deixa ficar acordados.
Somos sombras a vaguear entre cá e lá,
Entre o mundo da fantasia e a realidade que nos cerca.
Desejamos acordar e ser sonho real,
Viver a fantasia e afastar o pesadelo.
Desejamos abrir os olhos e ansiar não mais voltar a dormir.
Não o fazemos. Não o faço.
A vida lixa-me de todas as formas possíveis
E eu não consigo abandoná-la por um caminho mais fácil.
Quero mudá-la e não consigo.
Dói tentar e perder. Lutar e sobreviver sem viver.
São meras palavras que se repetem na minha cabeça,
Dão voltas e voltas e não se afastam do ponto de partida.
Regressam e afastam-se como as ondas salgadas na areia.
Transformo-as em palavras de alento e reconforto,
Não cumprem o seu papel e sou eu quem sofre a desilusão.
Amei viver, um dia lá trás, e agora findou-se.
Desapareceu e não encontro a volição para continuar.
Quero desistir. Desejo tanto poder ser fraca e abdicar de tudo o que não quero,
Desistir da vida que me deram e encontrar a que me pertence,
Achar o que é meu, mesmo que só exista desgosto e arrependimento.
Aceito tudo, menos continuar assim.
Tudo, excepto este vazio cá dentro,
Este desagrado pelo mundo, por mim, por tudo.
Incapaz de viver, forte demais para morrer,
Só quero ser feliz, será um pedido assim tão absurdo?
Estou desgastada por tanta tortura,
Tanto tempo a fingir ser quem não está,
Quem nunca esteve, excepto quando era bebé de colo e não pensava.
Agora penso e sou consciente de mim e distante dos outros,
Do que são e do que me atribuem ser.
Longe da felicidade e do amor,
Longe do mundo humano e incompreensível.
Nunca desejei entendê-lo ou conhecer os seus mistérios,
Apenas pertencer-lhe, desconhecendo-o,
Integrá-lo só o sentindo, sem razão ou justificação.