[Poema II]

24-08-2011 15:23

 

O ensurdecedor barulho dos disparos

Atinge o mundo como trovoada

Chuva e correntes marítimas

Naufragam em soluços travados

 

Somos homens de carne e osso,

Mas a desistência da vida é o palpitar da fraqueza

Porque somos incertos como o tempo

E tentamos manter a sanidade emocional

 

Lutamos por ver o céu e as estrelas luminosas

Corremos entre terras movediças e desviamos

Sentamo-nos à beira rio e somos serenidade

Amamos e destruímos com laços apertados de adoração

 

Ateamos o fogo da paixão a um cordel oleado

Variamos os passos na distância que separa o Céu do Inferno

Atingimos, finalmente, o espaço cinzento e apagamos

A luz vermelha acende e o chão rebenta em mil pirilampos

 

A água que transborda a alma bate como asas que se abanam

Os leques e a moldura da tela que os pinta agitam o vento

Apaziguam a queimação intrínseca e decadente

Somos almas desafortunadas que caíram e ficaram

 

Perdidas da multidão que atravessa a ponte e bloqueia o caminho

Somos homens de indignação e discernimento rasgados ao meio

Fragmentos de rocha que o Sol quebrou e o mar levou

Somos dias vazios que se unem em intemporalidade vadia

 

O coração é pendericalho ao peito, que exibe dor e saudade

O sentimento puro e caloroso, esse, o maldito não tem

Mata e afugenta para se guardar sem que o achem

Apaga a luz e cobre a face com lençóis brancos para que a manhã não seja

 

Ser pessoa que desagrada ou coisa que não é digna de percepção?

Desesperar no lume da fogueira com o rosto limpo ou observar de longe a punição?

A injustiça e a auto-preservação dominam o ciúme de nascer-se pó

Encarar o ouro e sentir-se bronze descascado, mas protegido

 

Descrever as garras com suavidade fingida

Cortar o pulso e apreciar a corrente desaguar

As marés e as fases lunares que somam desalento

Ajeitam-se em superação infindável de loucura

 

Pedir ao corpo que caminhe descalço sobre vidros

Torturar a vista com demasiado realistas ilusões

Agitar o copo e virar o mundo ao contrário

Sorrir à câmara e perder-se em vastidão oceânica

 

A conclusão? A finalidade é a descoberta que somos diferentes

As palavras e o sentimento alinham e desalinham como planetas

O sol, ora brilha, ora presenteia com escuridão solene

Mas nunca, em parte alguma, se viu um Deus tão requisitado.